Imposto sobre os ricos deixou de ser radical para ser racional – Taxar os mais ricos para equilibrar o sistema de contribuições na sociedade francesa é o assunto do dia nestes tempos de difícil equilíbrio com os governos de Macron em reformulação permanente. Mas a possibilidade de aumentar os impostos aos mais ricos poderá ser a chave para um novo consenso no parlamento francês.

- Na foto, os economistas Joseph Stiglitz (à esquerda) e Gabriel Zucman em Paris, no dia de outubro de 2025, durante um debate sobre a tributação das maiores fortunas.
Trata-se do imposto Zucman debatido esta semana de novo na Comissão Independente para a Reforma da Tributação Corporativa Internacional (ICRICT). Esta Comissão apoia a introdução na França de um imposto mínimo sobre riqueza extrema, o chamado “imposto Zucman”.
Isto acontece depois de na última década, a concentração de riqueza extrema se ter acelerado a um ritmo frenético. Num mundo abalado por crises financeiras e sanitárias, os mais ricos tornaram-se ainda mais ricos, enquanto os recursos públicos diminuíram e o padrão de vida da maioria da população estagnou.
Concentração da riqueza no mundo
A concentração da riqueza global está em alta, com os 1% mais ricos acumulando fortunas que poderiam erradicar a pobreza por décadas. Em 2024, surgiram 204 novos bilionários, intensificando ainda mais essa desigualdade.
Panorama atual da concentração de riqueza
Segundo o Relatório Oxfam 2025, a desigualdade económica global atingiu novos patamares alarmantes:
- 204 novos bilionários surgiram em 2024, elevando o total para mais de 2.900 pessoas.
- Esses bilionários enriqueceram, em média, US$ 2 milhões por dia, enquanto os dez mais ricos acumularam cerca de US$ 100 milhões por dia.
- Desde 2015, os 1% mais ricos do mundo aumentaram a sua riqueza em US$ 33,9 mil milhões, o suficiente para erradicar a pobreza global por 22 anos.
Impactos sociais e políticos
O relatório da Oxfam, intitulado “Às Custas de Quem?”, destaca como essa concentração extrema de riqueza está ligada a:
- Poder corporativo e influência política, especialmente em fóruns como o Fórum Económico Mundial de Davos, onde muitos dos responsáveis por essa desigualdade se reúnem.
- Desigualdade entre países e dentro deles, agravada por crises como a pandemia e pelas mudanças climáticas.
- A perpetuação de sistemas tributários e políticas públicas que favorecem os mais ricos em detrimento dos mais pobres.

Concentração da Riqueza na Europa
Na Europa, os 10% mais ricos detêm cerca de 57,4% da riqueza líquida das famílias, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 5%. Essa disparidade revela uma concentração extrema e crescente da riqueza no continente.
Distribuição desigual da riqueza na zona euro
Segundo dados recentes do Banco Central Europeu:
- 10% das famílias mais ricas concentram 57,4% da riqueza líquida total.
- 5% mais ricos detêm 44,5% da riqueza, o que representa quase metade da riqueza familiar da zona euro.
- Em contraste, 50% das famílias mais pobres possuem apenas 5% da riqueza líquida, evidenciando uma profunda desigualdade estrutural.
Variações entre países europeus
A desigualdade não é homogénea:
- Países como Alemanha e Áustria apresentam níveis mais altos de concentração, com forte presença de grandes patrimónios familiares e ativos financeiros.
- Já Portugal, segundo o sociólogo Frederico Cantante, apresenta um perfil intermédio, com crescimento recente na base de milionários — cerca de 175 mil pessoas com mais de US$ 1 milhão em património líquido.
- A concentração de riqueza está ligada à exclusão social, instabilidade política e dificuldade de acesso a oportunidades.
- Economistas alertam que metade dos ativos financeiros europeus está a escapar para fora da União Europeia, o que compromete a integração e o crescimento interno.O aumento da atratividade de programas como o Golden Visa também contribui para a entrada de capital estrangeiro e a valorização de ativos imobiliários, reforçando a concentração de riqueza.
- A Europa, berço de modelos sociais inclusivos, enfrenta hoje o desafio de conciliar crescimento económico com justiça distributiva. A concentração da riqueza não é apenas um dado estatístico — é um reflexo das escolhas políticas, fiscais e sociais que moldam o futuro do continente. Em tempos de transição ecológica e digital, repensar a equidade na distribuição de recursos torna-se urgente para preservar a coesão europeia.

O que está a acontecer em França com o debate sobre a proposta do Imposto Zucman deve ser acompanhado com atenção, sobretudo em Portugal onde as opções francesas são normalmente tidas em conta pouco tempo depois. Mas mais que o imposto sobre os ricos parece que a sociedade começa a exigir um contrato social renovado. Voltaremos a este assunto dentro de dias.
Em França o imposto sobre os ricos deixou de ser radical para ser racional. Como vai ser no nosso país?
PS – Cartoon principal henricartoon
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