Os cruzeiros na cidade do Porto relembram a Reconquista Cristã da cidade , em 868, por Vimara Peres aos mouros. A cruz voltou a ser o símbolo dos portucalenses e mais tarde dos portugueses.
Na cidade do Porto, foram erigidos cruzeiros, via sacras e padrões, no decorrer dos séculos, principalmente ao longo dos caminhos, e cruzamentos.
Ainda alguns permanecem connosco, no local primitivo ou recolhidos em igrejas ou cemitérios.
Por exemplo, na estrada de Valongo, que seguia as atuais ruas de Santo André, Santo Ildefonso, Largo do Padrão (vejam a toponímia), Rua do Bonfim, existia uma via sacra, um conjunto de 14 cruzeiros de pedra. No largo da Padrão tinha um cruzeiro com o Cristo esculpido e junto do monte do Bonfim era a 12.ª estação que recorda a morte de Jesus na cruz.
Neste monte existia a forca do concelho de Campanhã, onde eram executados os criminosos e diante da força foi colocada uma imagem da cruz para que os criminosos se arrependessem tal como o bom ladrão do Calvário.
Dessa devoção ao Senhor do Bonfim e da Boa Morte, nasceu uma capela, depois uma igreja e a seguir o magnífico templo actual.
No cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento e do Senhor do Bonfim e da Boa Morte estão recolhidos alguns padrões que estavam nas ruas, porque com o crescimento da cidade no século XIX, foi necessário alargar as ruas e retirar os cruzeiros e padrões.
Também no cemitério do Prado do Repouso estão mais dois cruzeiros.
Recolhidos em capelas estão o Senhor do Padrão de Campanhã, na capela da Senhora da Saúde e o do caminho de Santiago na Capela do Senhor do Olho Vivo ao pé da Lapa.
Na igreja de São José das Taipas está, no museu, um cruzeiro com a característica de ter sido pintado representado Jesus na cruz.
Temos, também, o cruzeiro do Senhor da Boa Fortuna, no cemitério da Lapa.
Penso que o único cruzeiro dos tempos antigos que permanece perto do local original é o do Largo do Carvalhido que marca uma milha após a cidade e que segue o caminho de Santiago passando pelo Padrão da Légua.
Cruzeiros – interpretação religiosa
Os cruzeiros na cidade do Porto – Esta festa de Exaltação da Santa Cruz nasceu em Jerusalém, em 13 de setembro de 335, no aniversário da dedicação das duas igrejas construídas por Constantino, uma sobre o Gólgota (ad Martyrium) e a outra perto do Santo Sepulcro (Ressurreição), após a descoberta das relíquias da cruz por Helena, a mãe do imperador. A cruz, instrumento da mais terrível das torturas, em 320, Constantino proibiu-a de ser utilizada.
Desde o édito de Milão, em 313, os cristãos passaram a gozar de liberdade religiosa e nos finais do século IV, com o imperador Teodósio, o cristianismo torna-se a religião oficial do Império Romano.
A cruz de ignóbil instrumento de tortura e morte passa a símbolo da reconciliação de Deus e da humanidade através do sacrifício de Cristo.
A cruz passou a estar patente nas bandeiras, estandartes e pendões dos exércitos e dos povos.
Vemos ainda muitos casos desses nos dias de hoje e o escudo de Portugal é um exemplo disso.
Por Sérgio Carvalho