Os recursos geológicos, desde longa data, têm sido aproveitados pelo homem em benefício próprio e o ouro não escapou a esta desenfreada procura. Desde o dia em que a primeira pepita brilhante foi apanhada, o ouro tornou-se uma atração poderosa e cobiçada. No concelho Paredes a presença de ouro é manifestamente conhecida, com a sua exploração pelo menos desde o tempo dos Romanos.
Geologicamente, esta região está inserida numa megaestrutura designada por Anticlinal de Valongo e enquadrada no Distrito Mineiro Dúrico-Beirão, considerado o segundo maior distrito mineiro produtor de ouro do nosso país (com base os registos mineiros existentes e excluindo o ouro explorado pelos romanos), com cerca de 5.6t desse metal produzido.
Na região a sul e sudoeste do Concelho de Paredes, abrangendo essencialmente as freguesias da Aguiar de Sousa e Sobreira, podemos encontrar vestígios da atividade mineira desenvolvida neste território ao longo dos tempos, com principal destaque para o Couto Mineiro das Banjas e as Minas de Castromil e de Serra da Quinta. Importa referir que estas áreas correspondem a concessões mineiras que, em alguns casos, foram definidas a partir de meados do século XIX e que coincidem com os trabalhos deixados pelos romanos.
As evidências arqueológicas, ligadas à mineração no território de Paredes, estão relacionadas com os trabalhos de exploração subterrânea e a céu aberto, essencialmente sobre os filões mineralizados desde o afloramento até várias dezenas de metros de profundidade. Muitas vezes utilizando um sistema de galerias e poços de secção quadrangular (1,5-2m de lado, podendo alcançar os 60m de profundidade), que permitia a evacuação do minério e das águas, assim como a ventilação.
Existe ainda o espólio arqueológico recolhido à superfície, em trabalhos e estudos de prospeção arqueológica, que conta com:
» materiais cerâmicos: de construção – coberturas e pavimentos; doméstico – lucernas, fragmentos de pratos, panelas, cântaros e sigillata
» materiais líticos: mós circulares graníticas e apiloadores aplíticos, fragmentados ou inteiros
» materiais metálicos: referência ao aparecimento de moedas, uma delas do tempo de Constantino.
Importa, ainda, referir que nos trabalhos desenvolvidos para o estudo e conhecimento destas áreas mineiras, constatou-se a presença de povoados-oficina associados às galerias romanas, revelando a realização in loco do tratamento mecânico do minério – trituração e moagem – com recurso às mós e aos apiloadores.
O estudo destas evidências permitiu estabelecer que a exploração mineira de ouro remonta, pelo menos, à presença dos romanos, assim como podemos, ainda, mencionar que alguma documentação escrita do século XVIII e do início do século XIX faz referências a estes trabalhos remetendo-os também para esse povo, atestando a conclusão de estudos recentes que apontam para que façamos parte (juntamente com as minas de Valongo e Gondomar) do maior complexo de exploração mineira subterrânea do Império Romano.
O interesse por estas áreas permaneceu até aos nossos dias e isso é possível verificar através dos pedidos de concessão para a exploração de ouro e outros metais, a partir da segunda metade do século XIX, que levou à construção do Complexo Mineiro das Banjas, um conjunto de estruturas que serviram de dormitório para os mineiros, escritórios e lavarias para o minério.
Desde o início do século XX até à atualidade foi dispensada grande atenção às áreas mineiras do Concelho Paredes, materializando-se em trabalhos de exploração, ou mais recentemente em trabalhos de prospeção e pesquisa.
Esta é uma região rica, não só em ouro, mas também em outros metais (ex. chumbo, antimónio, prata, estanho,…) que levou à sua exploração desde o tempo dos romanos até aos nossos dias, deixando-nos um passado de história mineira e um património Geomineiro de grande relevância.
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Por Natália Félix
Referências bibliográficas:
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Texto editado por CM de Paredes